Encontro em Paraíba: Conheça histórias de protagonismo pela inclusão

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Descrição da imagem: foto de quatro pessoas sentadas, olhando para uma mulher de pé. Ao lado direito há uma mesa com um cartaz escrito "Aqui tem Agosto das Letras 2018 - Festival de Leitura da Paraíba"

“Temos que mostrar as nossas capacidades.”, diz o paraibano Robson Silva acerca do universo da pessoa com deficiência e, mais especificamente, da deficiência visual. Não por acaso, já que nasceu com retinose pigmentar e, aos quinze anos, perdeu completamente a visão.

A retinose hereditária também afetou seus três irmãos. Natural da cidade interiorana de Bananeiras, o quarteto encontrou dificuldades na escola. “Eu sabia responder às questões, mas assinalava no lugar errado e o professor não entendia”, lembra Silva. O problema persistiu até os anos 2000, quando ele completou quinze anos. “Fiquei totalmente cego e acompanhava as aulas só de ouvido, enquanto respondia às questões oralmente. Era horrível, mas daí viram que eu sabia as respostas e finalmente comecei a avançar nos estudos.”, relata.

O atraso fez com que, em 2008, o rapaz decidisse migrar sozinho para João Pessoa. Lá, além de ser instruído no sistema de leitura e escrita Braille, no uso da bengala e no universo da informática por meio do Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha (ICEPAC), completou o Ensino Médio, prestou vestibular e graduou-se em direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Hoje, Silva é Secretário Geral e membro da Diretoria Jurídica da Associação Paraibana de Cegos (APACE). Ele é casado e, nas horas vagas, pratica goalball, uma modalidade esportiva específica para pessoas com deficiência visual.

 

Integrante do Grupo de Trabalho (GT) do seu Estado pela Rede Nacional de Leitura Inclusiva, Silva foi um dos ministrantes do 3º Seminário de Acessibilidade da Paraíba, realizado na capital em 31 de agosto, no Espaço Cultural José Lins do Rego, e que contou com a presença de estudantes de áreas distintas, professores, bibliotecários, do Promotor do Ministério Público Estadual da Paraíba e da Promotoria do Cidadão. Leitor voraz, o Secretário conta que estuda o Braille até hoje. “Para um jovem ou adulto que perde a visão, é mais difícil aprender a leitura tátil do que para uma criança com deficiência visual, mas me dediquei muito e, com o apoio de um grande amigo que também é cego, consegui dominar o código.”, explica.

Silva ainda destaca o papel da era digital para a leitura acessível e a importância de eventos como o Seminário. “O Braille é indispensável para a alfabetização de crianças com deficiência visual, mas a leitura digital amplia e facilita o acesso à essa forma única de informação e cultura. E é incrível participar de um evento como esse, com pessoas que tanto lutam pela causa.”, afirma.

No dia anterior ao Seminário, ocorreu também o evento Acessibilidade na Praça, graças ao intenso trabalho conjunto de mobilização dos parceiros locais da Rede. A iniciativa ocorreu na Praça da Paz, que é a mais movimentada de João Pessoa, e teve como objetivo trazer à tona, de um jeito divertido – mas, ainda assim, provocativo -, a questão da falta de acessibilidade que geralmente há nesses locais à pessoa com deficiência visual, por ser um espaço aberto normalmente sem piso tátil ou outras referências.

O evento chamou a atenção da população local e contou com a presença do consagrado poeta repentista Oliveira de Panela, que improvisou versos acerca dos temas inclusão e acessibilidade.

Descrição de imagem: Foto de sete palestrantes em cima de um palco, cinco mulheres e dois homens, e parte da plateia. Ao fundo há uma parede de vidro que mostra parte da cidade.

Viagem para todos

Há quem viaje nas páginas de um livro, mas também há quem busque uma experiência acessível para além do poder das letras. Foi pensando nos dois públicos que o Grupo de Cultura e Estudos em Turismo (GCET) da UFPB publicou o livro Turismo e Hotelaria no Contexto da Acessibilidade, disponível gratuitamente em formato digital.

Tendo a professora e coordenadora do GCET, Adriana Brambilla, como uma das organizadoras, o trabalho reúne textos de diversos pesquisadores do país acerca do tema. Alertada sobre o Seminário de Acessibilidade por uma das integrantes do grupo acadêmico, que possui deficiência visual, Adriana também compareceu ao evento com seus alunos. Segundo ela, desde que o grupo entrou em atividade em 2014, uma das linhas de pesquisa vem sendo a acessibilidade.

“Eventos como esse são imperdíveis para o grupo, porque ouvimos relatos reais de pessoas que vivem na prática a falta de acessibilidade nos diferentes segmentos, inclusive no turismo, e é expondo essa realidade que buscamos fazer a diferença.”, declara.